A síndrome de burnout e a falta de sentido
- Fatima Ferreira
- May 16, 2018
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Você é daqueles que com frequência experimenta falta de energia, dificuldade de concentração, dores musculares, palpitações, insônia, intensa irritabilidade entre uma série de outros sintomas e por vezes, tudo ao mesmo tempo? Se é o seu caso, saiba que você não está só nessa luta contra essa avassaladora pressão da vida moderna que não raro culmina em esgotamento físico e psíquico ou crise de burnout.
To burn out quer dizer queimar, exaurir, esgotar e reflete bem o que vem ocorrendo com grande número de pessoas saturadas de informações e conhecimentos nas mais variadas áreas e que experimentam sensação de vazio, confusão mental e desejariam “fugir”, redirecionar a profissão, mudar de país e de vida se possível fosse.
A síndrome de burnout é mais comumente relacionada ao desgaste ocasionado no ambiente de trabalho devido à longa exposição a situações de pressão e estresse, contudo ocorre igualmente em todas as demais áreas da vida, principalmente nos casos em que os velhos padrões deixem de ter significados mais profundos.
O difícil é que não bastassem todos esses efeitos físicos e psicológicos a pesar sobre nós, ainda somos confrontados em nossa capacidade de nos sentirmos competentes, graças a uma multidão salvadores da pátria, verdadeiros arquitetos do desenvolvimento humano, que com suas miraculosas receitas do sucesso conquistado da noite para o dia, se propõem a apontar o caminho da abundância a todos os que estejam dispostos a acessar uma avalanche de vídeos e responder qual o seu propósito ou onde você deseja estar daqui a cinco anos?
Esses métodos bombásticos são impotentes para afastar de modo efetivo esse desânimo que nos consome, até porque o cansaço existencial que nos atinge é o prenúncio do despertar de uma nova consciência, embasada em novos valores que efetivamente não se encontram lá onde temos depositado os nossos valores/tesouros, já bastante carcomidos.
Não é só o mundo que passa por transformações, em verdade nós estamos nos transformando, independentemente de estarmos tão conscientes dessa realidade quanto seria de se esperar. Como estamos habituados a olhar para fora, responsabilizando o outro pelo que nos acontece, sem que possamos sentir mais profundamente aquilo que ocorre dentro de nós mesmos, nos sentimos confusos, o que faz com que muitos se questionem se terão escolhido a profissão certa, ou se não seriam mais felizes seguindo outras direções.
A nossa educação, assim como a ciência vigente na qual se ancoram a medicina e a psicologia, já não conseguem nos ajudar o suficiente, por não conseguirem avançar na profundidade em que hoje sentimos a dor nesta realidade última. Sem um olhar multidimensional, ontológico, não conseguimos vislumbrar a abrangência do fenômeno humano na sua inteireza. Somos seres integrais, conectados com os outros e com o universo, vivendo uma experiência que transcende os acanhados limites físicos, cenário dos eventos que não raro sobrepujam o que é essencial: o homem.
Por isso o tão almejado senso de pertencimento que as empresas querem dos funcionários, assim como o propósito que cada qual deseja mapear, somente serão realidade quando os indivíduos forem contemplados em sua totalidade, como homens e mulheres capazes de pensar mas também de sentir e intuir, que respeitam e são respeitados nas suas diferenças, que não se limitam aos papéis que desempenham nas famílias e nas instituições em geral, como “integrantes” de um departamento, ou “ membros” estereotipados desse ou daquele núcleo ou categoria.
Nesta perspectiva, combater o absenteísmo, estimular o protagonismo, desenvolver colaboradores, passa antes de tudo por fomentar a percepção de conectividade, o senso de espiritualidade e a real visão de humanização. Sem isso o propalado desenvolvimento humano não passa de tentativas de fazer mais do mesmo: mais treinamentos, sucessivas ferramentas metodológicas direcionadas ao conhecimento, porém incapazes de ajudar o homem a buscar significados, fazer e conviver com o objetivo de vir a ser melhor.